Adilson José DePina, Moussa Brema Sangare, Abdoulaye Kane Dia, António Lima Moreira, Ibrahima Seck, Ousmane Faye e El Hadji
Enquadramento: A dengue é um dos problemas de saúde pública mais significativos como doença transmitida por vetores nos países tropicais e subtropicais. Cabo Verde, país tropical situado na costa atlântica, regista casos de doenças transmitidas por vectores desde a colonização das ilhas. Em 2009, pela primeira vez, foi detectado um surto de dengue no país, nomeadamente nas ilhas do Sotavento. Neste estudo, analisámos as características clínicas e epidemiológicas do dengue em Cabo Verde durante o surto de 2009-2010 e nos anos seguintes, até 2016.
Métodos: Com base nos casos de dengue notificados oficialmente em Cabo Verde durante o surto 2009-2010, disponíveis através da base de dados nacional de doenças transmitidas por vectores, e nos restantes casos residuais até 2016, foram analisadas características epidemiológicas e clínicas.
Resultados: Foram registados um total de 25.088 casos de dengue (DF), sendo principalmente (mais de 99%) durante o surto de 2009-2010 e 174 casos de Dengue Hemorrágica (HDF) no mesmo ano. Nos anos seguintes foram notificados casos importados e em 2016 foram notificados outros 4 casos autóctones no país. A maioria dos casos foi notificada em Santiago, a ilha principal, sobretudo na Praia, a capital, São Filipe, no Fogo e no Maio. Os principais sintomas durante o surto foram dor retro-orbitária, febre e cefaleias e as principais formas clínicas foram dengue clássica, viroses e dengue com sinais de alerta, com 15.577, 7.150 e 2.344 casos respectivamente.
Conclusão: Pela primeira vez o país vivenciou o vírus da dengue no seu território, com maior peso nas Ilhas do Sotavento. Devido à capacidade de resposta, foram registados alguns casos de morte durante o surto. As lições aprendidas com esta epidemia resultaram no investimento em todas as áreas de prevenção e controlo da dengue e de outras arboviroses.