Donatella Danzi
A crescente procura mundial de energia, combinada com o esgotamento das reservas de combustíveis fósseis e as preocupações com as alterações climáticas, aumentaram o interesse na produção de combustíveis a partir de fontes de energia renováveis. A biomassa lenho-celulósica tem um potencial considerável como matéria-prima para a produção de biocombustíveis e produtos bioquímicos, contribuindo para a diminuição das emissões de dióxido de carbono, um dos motores das alterações climáticas.
A produção global de palha de cereais, subproduto remanescente após a colheita dos grãos, representa uma fonte abundante de biomassa para as biorrefinarias de base lignocelulósica. A conversão da biomassa lenho-celulósica em produtos finais de base biológica, como os álcoois, requer principalmente um processo de três etapas: 1) pré-tratamento; 2) hidrólise ácida ou enzimática; 3) fermentação. Uma digestibilidade eficiente dos materiais lignocelulósicos é fundamental para a viabilidade global de qualquer bioproduto final.
No presente trabalho foi utilizado um conjunto de genótipos de trigo duro, seleccionados de uma colecção de germoplasma, para analisar algumas características fenotípicas e aspectos bioquímicos da parede celular. Estas características foram correlacionadas com a sua digestibilidade enzimática. O principal objetivo foi identificar o(s) genótipo(s) mais rentável(s) para serem utilizados como matéria-prima para a produção de bioetanol.
Foi observada uma variabilidade significativa dentro dos genótipos na libertação de açúcares após hidrólise enzimática. Os resultados evidenciaram que o teor de lignina foi o principal componente da parede celular determinando a recalcitrância ao processo enzimático. Quanto à associação com as características fenotípicas, foram encontradas correlações positivas com a altura de planta e o teor em ácidos urónicos. O possível papel de outros componentes da parede celular é também discutido.