Luciano Rodrigues Reis, Maria Helena Féres Saad*
Justificação e objetivos: A síndrome respiratória aguda grave-coronavírus 2 causou a pandemia da doença por coronavírus (COVID-19). No Brasil, os dados continuam limitados nas populações vulneráveis, incluindo os povos indígenas. Investigamos aspetos epidemiológicos, demográficos e clínicos da COVID-19 nas terras Pataxó dos municípios de Porto Seguro (PS) e Santa Cruz Cabrália (SCC), extremo sul da Bahia, Brasil, durante os primeiros 499 dias de transmissão.
Materiais e métodos: Trata-se de um estudo epidemiológico observacional transversal sobre os aspetos clínicos, demográficos e epidemiológicos da COVID-19 na população indígena da etnia Pataxó, residente nos municípios de Porto Seguro (PS) e Santa Cruz Cabrália (SCC). extremo sul da Bahia, Brasil, realizado entre 22 de maio de 2020 e 2 de outubro de 2021.
Resultados: Ocorreram 655 casos de COVID-19, a maioria em 2020 (67,79%, n=444), com uma taxa de incidência global de 6.575,6/100 mil habitantes. O sexo feminino (>58,4%) foi um fator de risco para a COVID-19 (χ 2 =24,682; df=1; P<0,001). A aceleração de novos casos revelou uma variação bimodal com um segundo pico no dia 491 (semana epidemiológica 39/2021), superior à primeira vaga (0,131168 e 0,106299 novos casos/dia). Os dois concelhos não apresentaram diferença significativa nos desfechos graves (P=0,444); no entanto, ocorreu uma mortalidade três vezes superior no CEC (CEC 134,9/100 mil habitantes e PS 36,3/100 mil habitantes). As crianças Pataxó (≤ 9 anos) apresentaram menor prevalência de sintomas agudos (P<0,001), essencialmente febre baixa (67,3%). As comorbilidades estiveram significativamente associadas à idade avançada (48%).
Conclusão: Estes achados expõem a gravidade da COVID-19 nas comunidades Pataxó e podem ajudar a satisfazer melhor as necessidades de saúde desta população negligenciada.