Gwendolien Vanderschaeghe*, Jolien Schaeverbeke, Rik Vandenberghe e Kris Dierickx
Enquadramento: A inclusão de doentes em estudos de investigação é imensamente importante na avaliação de novos biomarcadores para a doença de Alzheimer (DA) e quando a eficácia de possíveis opções de tratamento está sob investigação experimental. Para que o tratamento médico avance no retardamento da progressão da DA, ou mesmo na sua prevenção, a participação voluntária dos doentes não só é importante, como também a sua participação fiável é fundamental. Para se aproximarem da consecução deste objetivo, os investigadores precisam de compreender melhor o que motiva os participantes da investigação a inscreverem-se num ensaio clínico e obter informações sobre as expectativas dos participantes sobre a sua participação. Além disso, o que os investigadores percecionam como benefícios e riscos de um estudo pode diferir da visão dos participantes. Esta diferença pode levar a uma situação em que os investigadores recrutam menos sujeitos do que esperavam ou resultar numa participação pouco fiável dos sujeitos da investigação.
Método: Realizámos entrevistas semiestruturadas em profundidade em 38 doentes com défice cognitivo ligeiro amnésico (aMCI) como parte de um ensaio clínico (EUDRACT nº 2013-004671-12) sobre o valor preditivo dos biomarcadores para a DA. Os doentes tiveram a opção de receber os seus resultados individuais de pesquisa (IRR; resultados de PET de amiloide com leitura binária visual). Neste estudo, as motivações e as vantagens e desvantagens percebidas da participação no estudo foram investigadas a partir da perspetiva dos doentes. Antes de decidirem participar, os doentes receberam um folheto informativo que descreve os possíveis benefícios e riscos da participação.
Resultados: As duas razões mais frequentemente referidas para o voluntariado no ensaio foram contribuir para o progresso científico e receber as suas TIR. A participação para melhorar o progresso científico não foi apenas motivada por razões altruístas; foi mencionado principalmente juntamente com a possibilidade de receber um resultado valioso sobre a sua condição de saúde, sugerindo que o interesse próprio também motivou os doentes a participar. As duas desvantagens mais frequentemente referidas foram os possíveis riscos relacionados com a submissão a procedimentos médicos invasivos e o facto de o voluntariado ser considerado demorado. A maioria dos doentes sentiu que o seu parceiro e filhos apoiaram a sua decisão de se inscrever no estudo do biomarcador.
Conclusão: os doentes com MCI a têm vários motivos para quererem ser voluntários num ensaio clínico, sendo a opção de divulgação da RRI a principal motivação para a inscrição. A maioria dos nossos doentes sentiu que os familiares apoiaram a sua decisão de se voluntariar. No entanto, os investigadores precisam de ser cautelosos ao recrutar sujeitos para ensaios clínicos, garantindo que estes desejam realmente participar no estudo e que os familiares não os estão a coagir a fazê-lo. Além disso, o que o folheto informativo refere como possíveis benefícios e riscos da participação no ensaio nem sempre foi percecionado de forma semelhante pelos doentes.